AS VANTAGENS DE SER INVISÍVEL
- Ana Cortes
- 31 de mar. de 2017
- 2 min de leitura
As vantagens de ser invisível é um livro emocionante. À primeira vista, parece uma história típica de adolescentes, contudo, nesta obra a adolescência é descrita de forma leviana mas também sentida e profunda. Constantemente, “esquecemo-nos do que é ter 16 anos quando fazemos 17” e este livro mostra-nos essa intemporalidade do enredo e os extremos psicológicos a que esta fase das nossas vidas nos leva.
É, sem dúvida, uma obra com uma suavidade crítica espetacular.

A história é contada por Charlie através de cartas que este escreve para um anónimo, do qual ouve falar muito bem e, por isso, decide confidenciar-lhe todas as suas vivências. Charlie está prestes a iniciar o secundário e está assustado com todas as mudanças que têm ocorrido na sua vida. Sente-se incompreendido pela família, e após a morte do seu melhor amigo Michael, que se suicidou, e com a memória avassaladora (e a culpa) da morte da sua tia, de quem gostava imenso, Charlie está demasiado fragilizado psicologicamente e é, talvez por isso, uma personagem muito interessante e densa, com muito conteúdo, que é extraordinariamente bem explorada na história.
É um adolescente normal, e passa, portanto, pelas experiências que se vivem nesta fase: a procura de novas amizades, drogas, o primeiro amor, o primeiro beijo… É muito querido, sensível, inocente, introvertido, também um pouco carente. Ao longo do livro, verificamos que a sua personagem contém diversas camadas emocionais e várias oscilações de humor, causadas quer pela instabilidade e emotividade características da adolescência quer pela depressão e pelas visões que o assombram e que o deixam constantemente angustiado, o que o faz sobrepor a dor dos outros à sua, causando ao leitor um certo sentimento de revolta pois a personagem, por vezes, devia também preocupar-se consigo própria e colocar-se em primeiro lugar. “Aceitamos o amor que merecemos” e Charlie devia acreditar que merece mais e melhor. Aos poucos, e com a ajuda de novos amigos, Charlie vai descobrindo que não é apenas uma história triste e que é possível estar-se feliz e triste ao mesmo tempo. Isto é, sem dúvida, um retrato excelente e muito fiel do que é verdadeiramente a depressão e de como as coisas nem sempre são claras e simples.
Com uma inteligência de outro mundo e uma maturidade pouco comum para alguém da sua idade, Charlie é uma personagem completa que apesar do passado turbulento, não se vitimiza e deposita esperanças num futuro promissor que, definitivamente, merece ter.
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